Revolução Constitucionalista foi um movimento armado liderado por São Paulo, em 1932, contra o governo Getúlio Vargas e pela defesa de uma nova Constituição para o Brasil.
"A
Revolução Constitucionalista foi um movimento armado iniciado em 9 de julho de
1932, liderado pelo estado de São Paulo, que defendia uma nova Constituição
para o Brasil e atacava o autoritarismo do Governo Provisório de Getúlio
Vargas. Durante quase quatro meses, os paulistas entraram em confronto com
tropas fiéis a Vargas e, isolados, foram derrotados. O levante não foi em vão,
pois, em 1934, era promulgada a nova Constituição brasileira."
Antecedentes
históricos
A
Revolução de 1930 marcou a chegada de Getúlio Vargas ao poder, instalando-se o
Governo Provisório. Vargas então anulou a Constituição de 1891, fechou o
Congresso Nacional, extinguiu os partidos políticos e começou a governar por
meio de decreto-lei. Nos estados, Vargas depôs os antigos governadores e nomeou
interventores, pessoas da sua confiança, para governar cada estado brasileiro.
Uma característica marcante desse período histórico é a participação de civis e
militares na política, em vários casos, os dois grupos entraram em conflito. Em
1924, São Paulo foi palco de um movimento militar que objetivava a tomada do
poder, mas os revoltosos foram derrotados.
Vargas,
como chefe do Governo Provisório, acumulava poderes. Sem um Congresso aberto e
partidos atuando no campo político, ele começou a desagradar antigos apoiadores
da Revolução de 1930, pois o seu governo centralizava poderes. Não foram
convocadas eleições presidenciais, a Assembleia Nacional Constituinte prometida
não se realizava, ou seja, o Brasil não tinha uma Constituição. Além disso, os
interventores escolhidos para governar os estados não agradavam aos políticos
locais. Um exemplo disso foi São Paulo.
Os
paulistas viram na escolha dos interventores uma interferência de Getúlio
Vargas nos estados. A autonomia estava em risco, pois os governantes não eram
escolhidos pelos seus políticos, mas sim pelo chefe do Governo Provisório, que
começou a fazer isso desde 1931, nomeando interventores militares (ou ligados
aos militares).
Em 23
de maio de 1932, aconteceu no centro da cidade de São Paulo uma manifestação
contra o governo Vargas. As forças leais ao governo reagiram, matando quatro
estudantes: Mário Martins Almeida, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes de
Sousa e Antônio Camargo de Andrade. A violência contra os manifestantes
aumentou o apoio da classe média paulista à causa constitucionalista e contra o
governo. Os sobrenomes dos mortos foram imortalizados no acrômio: MMDC."
Participantes
da Revolução Constitucionalista de 1932
Euclydes
de Figueiredo, participante do movimento, escreveu em seu livro, Contribuição
para história da Revolução Constitucionalista de 1932, que, até o início do
confronto, São Paulo contava com o apoio e o envio de tropas de Mato Grosso e
Rio Grande do Sul, estados que também demonstravam insatisfações com o
autoritarismo de Vargas. No entanto, quando o combate começou, ambos optaram
pelo lado varguista, abandonando os paulistas."
"Em
9 de julho de 1932, as tropas paulistas iniciaram a luta armada liderada pelo
general Isidoro Dias Lopes. O interventor Pedro de Toledo, varguista no início
da sua gestão, logo após o início do conflito, mudou de lado e apoiou os
constitucionalistas. Os revolucionários organizaram uma intensa campanha
publicitária pedindo apoio da população para que o conflito obtivesse sucesso.
Os jovens foram convocados para lutarem nos campos de batalha, e os industriais
suspenderam suas produções e iniciaram a fabricação de armamentos para o
confronto.
Para
financiar os soldados paulistas, foi criada a Campanha do Ouro para o Bem de
São Paulo, em que a população era convocada a doar seus objetos de valor em
prol da causa constitucionalista."
"O
apoio dos gaúchos e dos mato-grossenses não veio, e os paulistas tiveram que
lutar sozinhos. O governo de Minas Gerais também apoiava a luta em defesa da
Constituição, mas preferiu ficar do lado de Getúlio Vargas. A suspeita de que
os paulistas estavam lutando pela independência do estado diminuiu o apoio de
outros estados brasileiros ao levante."
Conflitos
armados
Os
conflitos aconteceram principalmente na região do Vale do Paraíba, nas divisas
dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, principalmente na
divisa paulista e mineira. As tropas paulistas tentaram resistir às investidas
das forças varguistas, com a capital paulista sendo atacada por aviões
governistas. O criador do avião, Alberto Santos Dumont, morava em Santos,
cidade do litoral paulista, e, quando soube que a sua invenção era usada para
matar concidadãos, suicidou-se, em 23 de julho de 1932. Vários jovens
combatentes perderam suas vidas durante a luta. Muitos não tiveram treinamento
necessário para atuar no campo de batalha, pegando em armas somente pela causa
constitucionalista, como recorda Euclydes Figueiredo."
"O
sul de Minas Gerais registrou intensos combates. As tropas mineiras foram
deslocadas para a região da cidade de Passa Quatro, para atacar os paulistas
que já estavam alcançando o território. Mineiros e paulistas travaram intensos
combates em um túnel da estrada de ferro que ficou conhecido como Túnel da
Mantiqueira.
Nesse
local atuaram duas personalidades que teriam destaque na política nacional nas
décadas seguintes. Benedito Valadares foi chefe de polícia de um dos
destacamentos militares de Minas Gerais. Logo após o conflito, Valadares ganhou
a confiança de Getúlio Vargas e foi nomeado interventor de Minas Gerais.
Juscelino Kubitschek participou do combate como médico. Ele atendia aos feridos
nos hospitais de campanha. Foi durante a Revolução de 1932 que os dois se
conheceram. Ao assumir a Interventoria de Minas Gerais, Valadares nomeou
Kubitschek para ser prefeito de Belo Horizonte."
Fim da
Revolução Constitucionalista
Em 1o
de outubro de 1932, quase quatro meses depois de iniciado o conflito, os
paulistas renderam-se, pois não tinham mais soldados suficientes e nem
mantimentos para manterem a batalha contra o Governo Provisório. As forças
militares fiéis a Vargas derrotaram as tropas paulistas. O saldo da guerra foi
de 934 vidas que morreram no combate pela causa constitucionalista. Esses
números referem-se ao que foi publicado oficialmente, mas há registros de mais
mortos.
Os
principais líderes da revolução tiveram seus direitos políticos cassados e
foram deportados para Portugal. Era uma forma de o governo afastar de São Paulo
aqueles que motivaram a luta armada contra o poder central.
Consequências
da Revolução Constitucionalista
Apesar
de derrotados militarmente, os paulistas conseguiram o que queriam. Em 1933 foi
realizada a Assembleia Nacional Constituinte, que elaborou uma nova
Constituição para o Brasil, sendo essa promulgada no ano seguinte. O Congresso
Nacional foi reaberto, os partidos políticos voltaram a funcionar, e Getúlio
Vargas foi eleito presidente da república por meio de eleição indireta. Assim
se encerrava o Governo Provisório e começava o Governo Constitucional, no qual
Vargas passou a governar o Brasil sob as diretrizes constitucionais.
Vargas
não se afastou dos paulistas após o levante. Como o estado era o mais
desenvolvido economicamente, o Governo Provisório manteve a política de
valorização do café, uma tentativa de salvar os cafeicultores dos efeitos da
Crise de 1929. O fator econômico foi fundamental para a aproximação de Vargas
com seus antigos inimigos.
"Os
paulistas finalmente tiveram um civil como interventor. Em agosto de 1933,
Armando Sales era nomeado interventor e, em 1935, foi eleito governador
constitucional. Sales convocou uma Assembleia Constituinte que elaborou uma
Constituição para o estado de São Paulo.
A
memória da Revolução Constitucionalista de 1932 é ainda valorizada pelos
paulistas. O dia 9 de julho, data em que se iniciou o movimento, é feriado
estadual. Na cidade de São Paulo, existem várias referências à revolução, como
ruas, praças e viadutos nomeados com os nomes dos combatentes, além do
monumento erguido próximo do Parque Ibirapuera, onde estão guardados os restos
mortais daqueles morreram lutando pela Constituição."
Fonte:
https://brasilescola.uol.com.br/historiab/revolucaoconstitucionalista.htm