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Carlos Alberto Marchi de Queiroz*
Paulo Setúbal, no século passado, escreveu o
livro Nos Bastidores da História, desmistificando fatos históricos brasileiros que não
correspondiam à realidade. Após ler a
obra, passei a analisar, com cuidado, versões vencedoras da História Oficial, que,
na maior parte, não correspondem à
realidade.
Pedro Álvares Cabral não descobriu o Brasil. Apesar de almirante,
jamais marinheiro, foi auxiliado por navegadores experientes. Era, apenas, chefe
da expedição militar contra Calicut, na Índia, para acertar contas com governantes locais. Veio aqui
apenas para tomar posse da terra para Dom Manuel, o Venturoso. Cabral chegou ao Brasil em 22 de abril de
1500, cuja existência era conhecida antes que Portugal e Espanha firmassem o
Tratado de Tordesilhas, em 7 de junho de 1494, dividindo o mundo em duas
partes, por ordem do papa Alexandre VI, Rodrigo Bórgia, pai da famosa Lucrécia.
Tiradentes, barbudo, antes de
vestir o camisolão branco, diante do carrasco, como retrata quadro de Rafael Falco, de 1951, do acervo da Câmara Federal, em Brasília, imitando Cristo, é falacioso. Joaquim José da
Silva Xavier era alferes, aspirante a oficial. Foi enforcado, no Rio de
Janeiro, despojado das insígnias, mas de barba feita, como convém a oficiais.
A versão escolar de que Pedro de Alcântara libertou o Brasil em 7 de setembro de 1822 é formulação machista
de historiadores como Varnhagen, Oliveira Lima e Hélio Vianna. Aliás, o teatral
quadro Independência ou Morte, de
Pedro Américo, de 1888, do Museu do Ipiranga, hoje fechado, assemelha-se àquele de Jean-Louis Ernest
Meissonier, de 1875, retratando a Batalha de Friedland, vencida por Napoleão,
na Rússia, em 14 de junho de 1807, hoje no Museu Metropolitano de Nova York. No Ipiranga, Pedro montava uma besta baia
gateada e não um cavalo árabe, incapaz de subir a Serra do Mar, vindo de Santos!!!!
A verdadeira história da libertação
do Brasil começou em 13 de maio de 1817, aniversário de Dom João VI. Nessa data, Pedro
casou-se, por procuração, com Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de
Habsburgo-Lorena, uma linda arquiduquesa, poliglota, extremamente culta para a época, filha do
imperador Francisco I, da Áustria.
Nasceu no Palácio de Schönbrunn,
em Viena, em 22 de janeiro de 1797, para
ser rainha. Era exímia caçadora e amazona. Sua irmã mais velha, Maria Luisa,
tornou-se a segunda esposa de Napoleão e segunda imperatriz dos franceses.
Leopoldina foi indicada por Humboldt ao marquês de Marialva, como esposa ideal
para o fogoso príncipe herdeiro. Chegou ao Brasil em 5 de novembro de 1817,
apaixonando-se, perdidamente, por Pedro, com quem, entre 1819 e 1825, teve sete
filhos, dentre eles Maria II, de Portugal, e Pedro II, do Brasil. Foi, desde
então, infeliz no casamento face às traições do marido com dançarinas francesas, atuantes
no Rio de Janeiro.
Após a volta da Família Real,
em 25 de abril de 1821, Maria
Leopoldina, que adotara o pré-nome por ser devota da Virgem Maria, passou a
esposar, calorosamente, a ideia da independência acalentada pelos brasileiros.
No dia 13 de agosto de 1822, Pedro,
viajou para São Paulo, rebelado. Nomeou Leopoldina, chefe de Estado e do
Conselho, tornando-a, simultaneamente, regente e primeira chefe de Estado da História do Brasil!!!
Enquanto o marido, retornando de Santos, conhecia Maria Domitila de Castro Cunha e Melo, futura
marquesa de Santos, grande amor de sua vida, hoje sepultada no Cemitério da Consolação,
em São Paulo, Leopoldina inteirou-se de
que as Cortes desejavam rebaixar o Brasil à condição de colônia retirando-lhe o
status de Reino Unido a Portugal e
Algarves.
Aconselhada por José Bonifácio de
Andrada e Silva, assinou, em 2 de setembro de 1822, o decreto da Independência,
que Pedro foi obrigado a engolir, separando o Brasil de Portugal. Exigiu dele, por carta, levada a São Paulo,
pelo correio a cavalo Paulo Emílio Bregaro, que proclamasse, promulgando imediatamente, a Independência decretada, cinco dias antes, escrevendo-lhe: ”O
pomo está maduro, colha-o já, senão apodrece!!!” Segundo o padre Belchior
Pinheiro de Oliveira, da comitiva, Pedro sofreu um desarranjo intestinal !!!!
Antes do marido retornar à Corte,
Leopoldina, principal articuladora do processo de Independência, idealizou a
bandeira do Brasil, com o verde dos Bragança e o amarelo dos Habsburgo.
Foi aclamada imperatriz no dia 1
de dezembro de 1822, durante a cerimônia de coroação e sagração de Dom Pedro I.
Faleceu em 11 de dezembro de 1826, antes dos 40 anos, no Paço de São Cristóvão, no Rio de
Janeiro. Repousa, ao lado de Pedro, na Capela Imperial, sob o Monumento do
Ipiranga, em São Paulo. Uma mulher
extraordinária !!!
*Carlos Alberto Marchi de Queiroz,
professor de Direito e membro da Academia Campinense de Letras.