fonte da imagem: http://televisao.uol.com.br/noticias/redacao/2012/12/24/em-salve-jorge-helo-liga-para-russo-atras-de-morena.htm
Carlos
Alberto Marchi de Queiroz
Ivanete de Oliveira Velloso, hoje aposentada, foi a
primeira delegada de polícia concursada do Brasil. Nomeada em 4 de agosto de
1975, por decreto do governador, abriu acesso às corajosas mulheres que
desejavam ser autoridades policiais ou agentes. Vencendo a banca examinadora,
passou por árdua prova de avaliação física carregando, às costas, um saco com
areia, pesando 20 quilos. O fato ganhou destaque nacional nos meios de comunicação
de massa na época.
Desde então, as mulheres vêm ingressando em todas
as carreiras das policiais civis brasileiras e na Polícia Federal. Em São
Paulo, ocupam hoje, um terço do contingente da polícia de investigações.
Designadas para servir em áreas de risco, algumas morreram ou foram feridas no
cumprimento do dever.
Surge, agora, na telinha, a bela figura da delegada
Helô, titular de uma fictícia delegacia de polícia estadual, no Rio de Janeiro,
empenhada, pessoalmente, em descobrir uma trama internacional de tráfico de
pessoas para o exterior. Seu desempenho na delegacia, ao lado da forte presença
da escrivã de polícia de seu cargo e de um eficiente detetive, cargo
equivalente ao de investigador de polícia, não foge daquilo que normalmente
acontece no interior das unidades policiais civis.
Existem delegadas de polícia bonitas, inteligentes,
dondocas, consumistas, independentes, divorciadas e ricas como a delegada de
Salve Jorge? Parece incrível, mas existem. Mas o que leva uma mulher bonita,
bafejada pela fortuna, bacharel em Direito, a inscrever-se em concursos
públicos, dificílimos, buscando ocupar um cargo de altíssimo risco pessoal nas
carreiras policiais civis? A resposta é uma só: vocação.
Além de delegadas, as polícias civis brasileiras
contam com escrivãs, investigadoras, agentes policiais, agentes de
telecomunicações, fotógrafas, carcereiras, papiloscopistas e auxiliares, pilotos
de helicóptero, médicas-legistas, peritas criminais, auxiliares de necropsia e
atendentes de necrotério. Quadros, outrora exclusivamente masculinos,
encontram-se, agora empenhados ao lado das mulheres, sem qualquer espécie de
preconceito, em suas atividades-fim, o combate ao crime.
A novela, fruto da atividade humana, mostra falhas
de continuidade, que não podem ser tidas como licença poética. Num dos
capítulos, a intimação de uma das partes envolvidas, na verdade uma
notificação, é feita por um oficial de justiça, de maleta, terno e gravata. As
polícias civis não contam com oficiais de justiça desde a proclamação da República.
Esse serviço é realizado, desde então, por investigadores, detetives ou
agentes. A delegacia, curiosamente, não mostra nenhuma clientela, a não ser o
caso investigado ao arrepio da lei.
Esses deslizes não invalidam a trama e, muito
menos, a ação da delegada empenhada em desmantelar, por sua conta própria, organização
criminosa dedicada ao tráfico internacional de crianças e de mulheres. Aliás,
uma cruel realidade muito bem retratada e denunciada pela autora do script.
O Brasil, desde sua volta ao regime democrático,
deve muito à imprensa, ao rádio e à televisão. A propaganda apresenta vantagens
e desvantagens. Goebbels, ministro nazista, utilizou-a com maestria. Dentro do
contexto novelístico é preciso, todavia, ressaltar que o Brasil tem uma Polícia
Federal, com atribuição nacional nos 26 estados e no DF, atuando nas infrações
penais em que a União figura como vítima. Por outro lado, todos os estados
brasileiros e o DF possuem polícias civis e militares, destinadas a combater
crimes em geral, menos aqueles em que a União aparece como vítima.
No caso enfocado pela novela Salve Jorge, a
delegada estadual Helô está investigando crimes sem poder fazê-lo
funcionalmente. O público telespectador não merece ser enganado. As polícias
civis estaduais não têm atribuição (competência, no linguajar popular) para
investigar crimes de tráfico internacional de pessoas. Nessas hipóteses, a
vítima mediata é a União, e a imediata a pessoa objeto do tráfico. Só a Polícia
Federal pode agir nesses casos. Trata-se de um tecnicismo processual penal que
foge à compreensão do povo, em geral.
A autora do folhetim, certamente alertada, a tempo,
por especialistas, faz a delegada Helô passar em concurso para ocupar um cargo
de delegado da Polícia Federal. Sem querer, vai ajudá-la em termos salariais,
pois, como delegada fluminense, ganha quase o mesmo que seus colegas dos demais
estados. Os delegados federais e seus agentes, em razão de saudável política
salarial do governo central, recebem o triplo dos estaduais. A União acompanha
a política salarial das mais modernas polícias do mundo. Assim, a delegada
Helô, após cursar por algum tempo a Academia de Polícia Federal, em Brasília,
certamente, vai poder consumir um pouco mais, ajudando, assim, o crescimento da
economia...
Carlos Alberto Marchi de Queiroz
é professor da Academia de
Polícia
Que gente noveleira...
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