Ministério Público fez um raio X do Primeiro Comando da Capital e pediu à Justiça a internação de 32 chefes no Regime Disciplinar Diferenciado
11 de outubro de 2013 | 2h 00
Marcelo Godoy - O Estado de S.Paulo
Depois de três anos e meio de investigação, o Ministério Público Estadual
(MPE) de São Paulo concluiu o maior mapeamento da história do crime organizado
no País, com um raio X do Primeiro Comando da Capital (PCC). Por fim, denunciou
175 acusados e pediu à Justiça a internação de 32 presos no Regime Disciplinar
Diferenciado - entre eles, toda a cúpula, hoje detida em Presidente
Venceslau.
O MPE flagrou toda a cúpula da facção em uma rotina interminável de crimes.
Ela ordena assassinatos, encomenda armas e toneladas de cocaína e maconha. Há
planos de resgate de presos e de atentados contra policiais militares e
autoridades. O bando faz lobby e planeja desembarcar na política.
Presente em 22 Estados do País e em três países (Brasil, Bolívia e Paraguai),
a "Família" domina 90% dos presídios de São Paulo. Fatura cerca de R$ 8 milhões
por mês com o tráfico de drogas e outros R$ 2 milhões com sua loteria e com as
contribuições feitas por integrantes - o faturamento anual de R$ 120 milhões a
colocaria entre as 1.150 maiores empresas do País, segundo o volume de vendas.
Esse número não inclui os negócios particulares dos integrantes, o que pode
fazer o total arrecadado por criminosos dobrar.
A principal atividade desenvolvida pela facção é tráfico de drogas. Chamado
de Progresso, prevê ações no atacado e no varejo. No último, a facção reunia
centenas de pontos de venda espalhados pelo País. Eles são chamados de "FM". No
caso da cocaína, os bandidos mantêm um produto de primeira linha, o "100%" e o
"ML", que é a droga batizada, de segunda linha. A maconha é designada nas
conversas com o nome de Bob Esponja. A droga do PCC vem do Paraguai e da
Bolívia. Os três principais fornecedores de drogas para o PCC seriam o
traficante paraguaio Carlos Antonio Caballero, o Capilo, e os brasileiros
Claudio Marcos Almeida, o Django, Rodrigo Felício, o Tiquinho, e Wilson Roberto
Cuba, o Rabugento.
Arsenal. O bando tem um arsenal de uma centena de fuzis em
uma reserva de armas e R$ 7 milhões enterrados em partes iguais em sete imóveis
comprados pela facção. Ao todo, o grupo tem 6 mil integrantes atrás das grades e
1,6 mil em liberdade em São Paulo. Esse número sobe para 3.582 em outros Estados
- somando os membros ativos e inativos, além dos punidos e os que não têm mais
cargos ou participação em atividades mantidas pela facção.
A denúncia do MPE foi assinada por 23 promotores de Justiça de todos os
Gaecos de São Paulo. O MPE fez ainda um pedido à Justiça de que seja decretada
prisão preventiva de 112 dos acusados. Todos os suspeitos listados pelo MPE
foram flagrados conversando em telefones celulares, encomendando centenas de
quilos de cocaína, toneladas de maconha, fuzis, pistolas, lança-granadas e
determinando a morte de desafetos, traidores e suspeitos de terem desviado
dinheiro da Família. Deixam, assim, claro que atuam segundo o princípio de que
"o crime fortalece o crime". Dezenas de telefonemas relatando pagamento de
propinas, principalmente a policiais civis, mas também a PMs, fazem parte da
investigação.
A Justiça de Presidente Prudente se negou a decretar a prisão de todos os
acusados, sob o argumento de que seria necessário analisar mais detidamente as
acusações. O mesmo argumento foi usado pela Vara das Execuções Criminais, que
indeferiu o pedido de liminar feito pelo MPE para internar toda a cúpula da
facção no RDD da Penitenciária de Segurança Máxima de Presidente Bernardes. O
juiz Tiago Papaterra decidiu verificar caso a caso a situação dos detentos,
antes de interná-los.
fonte: http://www.estadao.com.br
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