fontes das imagens: internet/montagem: Israel Coutinho
Carlos Alberto Marchi
de Queiroz*
O Correio Popular,
edição de 9 de janeiro, A2, na seção Há 50 anos, publicou curiosa nota.
Sob o lead POLÍCIA
DE CAMPINAS À BEIRA DA FALÊNCIA, o jornal, no longínquo 9 de janeiro de 1965, denunciava: ”Nunca
tivemos a ventura de possuir uma boa polícia. Ressalvando-se um breve período,
lá pelos idos de 1935 e 36, quando era Chefe de Polícia o campineiro Arthur
Leite de Barros, em nenhuma época pudemos contar com uma polícia eficiente. Até
parece que os responsáveis pelos destinos deste Estado nunca tomaram
conhecimento de Campinas”.
O editor arremata ,corajosamente,
comparando:” Em algumas cidades do Interior, sem a importância de Campinas, dá
gosto de observar a organização e os recursos de que dispõem. A delegacia de
Piracicaba, por exemplo, possui
instalações limpas e adequadas, contando com pessoal em número mais ou
menos suficiente e magnífica frota de viaturas em bom estado. Naquela cidade os
carros da polícia rondam de dia e de noite”.
Meio século depois, é imperioso
formular uma pergunta que não quer calar: A polícia de Campinas ainda está à
beira da falência ou comporta recuperação?
É preciso esclarecer, antes de
entrarmos no âmago da questão, que aqueles comentários diziam respeito à
Polícia Civil, conhecida como Polícia do
Estado ou, simplesmente, Polícia que se identificava pelas cores branca e preta
das viaturas, chamadas de “pinguins”. Suas
únicas instalações ficavam no prédio, ainda existente, construído por Ramos de
Azevedo, no quarteirão da Avenida Andrade Neves.
A Polícia Militar não existia. Os
serviços de policiamento ostensivo eram realizados pela Força Pública, cujo
quartel, o 8º Batalhão de Caçadores, ficava na Avenida João Jorge, e pela
Guarda Civil, extintas em 1970, pela ditadura militar.
Passados 50 anos, o panorama
mudou radicalmente. A Delegacia Regional de Polícia transformou-se no Deinter
2, com 5 delegacias seccionais, distritos e delegacias especializadas. A
Delegacia Regional de Polícia de Piracicaba, atual Deinter 9, tem idêntica
capilaridade embutida em 6 seccionais.
A população da RMC, servida por
ambos departamentos, quintuplicou no período. A criminalidade, também, como
demonstram estatísticas fornecidas, periodicamente, pela Secretaria de Segurança Pública, através do Diário
Oficial.
Em 1965, Campinas acabava de ser
aterrorizada pelo “Bandido Mascarado”. Entre 1961 e 1963, o marginal matava
jovens, poupando as acompanhantes, libertando-as, ilesas, após dar-lhes um pito
por namorarem em lugares ermos... acontecimentos que, hoje, seriam sepultados
pela onda de criminalidade.
Desde então a Polícia mudou. Os
governos Carvalho Pinto e Orestes Quércia investiram maciçamente em engenharia civil,
construindo delegacias e distritos. Quércia elevou para 101 o número de
distritos da Capital que somavam 51. Apesar disso, 1/3 das unidades policiais
civis funcionam em imóveis alugados.
Viaturas e helicópteros,
submetidos a intenso desgaste, são constantemente renovados, impressionando os
eleitores.
A imprensa de Campinas e do
Estado, nestes 10 lustros, tem fiscalizado, rigorosamente, as atividades da
Secretaria de Segurança Pública, em seus aspectos ostensivos, preventivos e
administrativos, dos seus braços armados, a PM e a Polícia Civil.
Em razão dessa transparência, que
se contrapõe às mentiras veiculadas pelos políticos, sabe-se que a Polícia
Civil, desde 1996, conta com um quadro de 44.400 cargos dos quais, atualmente,
31.500 estão ocupados e os restantes vagos, em decorrência de aposentadorias,
mortes em serviço e pedidos de exoneração em razão de baixos salários.
Diretores de polícia, membros do Conselho, reconhecem, em entrevistas, o
déficit de pessoal que atormenta a instituição, cuja Academia de Polícia não
conta com estrutura, muito menos professores, para formar 12.800 novos
policiais, cujos salários afastam candidatos.
A Polícia Civil precisa de um
Departamento de Planejamento, exclusivo, a fim de enfrentar os desafios do
século 21. Precisa aumentar efetivos defasados em relação à atual densidade
demográfica. Precisa colocar alunos da Academia para trabalhar durante meio
período enquanto cursam, à semelhança do que ocorre na França. Oficiais
administrativos, não policiais, bem remunerados, precisam ser contratados, liberando
policiais civis que, hoje, realizam tarefas logísticas.
É obrigatório reconhecer que não
existe uma fórmula simples para administrar uma empresa do porte da Secretaria
de Segurança Pública e de suas afiliadas, como a Polícia Civil de Campinas.
Nesse sentido, o Deinter 2 tem problemas
parecidos àqueles enfrentados por todos os departamentos subordinados à
Delegacia Geral de Polícia.
A Polícia Civil de Campinas, 50 anos depois, não
faliu. Precisa de forte recuperação em termos de recursos materiais e humanos,
para voltar aos anos de 1935 e 1936. Para tanto, depende da argúcia do secretário
e do delegado geral.
*Carlos Alberto Marchi
de Queiroz é professor da Academia de Policia
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