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A cada 1% a mais de jovens entre 15 e 17 anos nas escolas,
há uma diminuição de 2% na taxa de homicídios no Brasil. Esta é a principal
conclusão da nota técnica Indicadores Multidimensionais de Educação e
Homicídios nos Territórios Focalizados pelo Pacto Nacional pela Redução de
Homicídios, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Avançada).
As conclusões da pesquisa se mantêm atualizadas
principalmente quando o debate sobre a redução da maioridade penal ganha força
no Congresso, avalia Daniel Cerqueira, economista e técnico de Planejamento e
Pesquisa do Ipea, em entrevista ao HuffPost Brasil.
A redução da idade para a imputabilidade penal está em
discussão no Senado Federal em resposta a um clamor da sociedade por um maior
combate à criminalidade e à sensação de impunidade. Para o especialista,
contudo, o Brasil precisa de "políticas pensadas com base em
métodos", e não "políticas reativas" para combater o crime no
País.
"Ao olhar para os estudos que analisaram o efeito da
redução da maioridade penal sobre a taxa de crimes na localidade você chega ao
mesmo resultado: a maior dureza na lei é ineficiente. Precisamos entender como
queremos lidar com esse jovem infrator como sociedade", explica Cerqueira.
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Por meio de dados coletados pelo Ipea, foi possível perceber
a semelhança entre os perfis do conjunto de quem é vítima de homicídios e
daqueles que cometem os crimes em todos os municípios do País.
Entre as pessoas que são vítimas de homicídio no Brasil, 73%
não tem sequer ensino fundamental. Já entre a população carcerária, esta
porcentagem é de 53%. Para o economista, a educação é a ferramenta prioritária
no combate ao crime.
DADOS SOBRE A POPULAÇÃO CARCERÁRIA
- O Brasil possui 622 mil pessoas em situação de cárcere;
- Mais de 96% são homens;
- Tráfico, roubo e homicídio são os principais crimes
cometidos;
- 67% da população carcerária é negra;
- 53% da população carcerária não possui ensino fundamental
completo
(* Informações do Levantamento Nacional de Informações
Penitenciárias de 2014)
"Fizemos um exercício estatístico para entender como as
características socioeconômicas de uma pessoa interfere ou ajuda explicar a
chance dela sofrer homicídio no Brasil. E se essas pessoas, com 18 anos ou
mais, tivessem pelo menos alcançado o ensino médio? Nesse caso nós teríamos uma
queda de 42% dos homicídios", argumenta Daniel Cerqueira.
Para o especialista, os seguintes projetos de políticas
públicas seriam mais eficiente do que uma lei para reduzir a maioridade penal
como enfrentamento a violência no País.
1. Políticas públicas focalizadas
"Uma coisa fundamental é a gente pensar em políticas
baseadas no planejamento e no método, em vez de políticas baseadas na reação.
Quando você faz isso, você percebe que diversas estatísticas empíricas no
Brasil são de uma regularidade absurda.
Em 2014, 2% dos municípios brasileiros concentravam 22.776 homicídios,
48,6% do total do crime no país. Quando você vai olhar esses municípios
violentos, você percebe que metade dos homicídios nesses municípios acontecem
em no máximo 10% dos bairros.
Ou seja, cerca de 500 bairros do Brasil respondem por 25%
dos homicídios totais do país. Você já sabe a localidade em que se concentra o
problema. Então, o primeiro ponto é a focalização da política pública nessas
regiões que de uma maneira ou outra o Estado abandonou."
2. Valorizar a 1ª infância
"Depois, você precisa entender quem é o jovem que vive
nessas regiões. E aí nós temos alguns projetos que já foram testados
internacionalmente e tiveram maior eficácia de retorno. Ou seja, cada dólar
investido nessas políticas trouxe uma melhoria para os indicativos sociais.
O primeiro passo nesse sentido é cuidar da parte mais
importante do desenvolvimento, que é a primeira infância. Pensar em programas
que envolvam a visitação das mães grávidas ou de crianças pequenas por equipes
multidisciplinares. A criança antes de nascer e crescer, já vai ter uma família
com orientação e um acompanhamento. Isso é fundamental para o que vem
depois."
3. Transformar as escolas
"Em seguida, precisamos pensar em como a gente vai
transformar as nossas escolas atuais, sobretudo nessas localidades, em escolas
que não sejam pensadas somente para a classe média. Precisamos entender que o
jovem que estamos lidando nem sempre terá todas as condições socioemocionais.
No modelo que temos hoje, ele será feito de repositório de
conhecimentos enciclopédicos que nem sempre possuem uma ligação com o seu
mundo. Ou que tenham a capacidade de motivá-lo a aspirar um outro tipo de
mundo. As dificuldades que ele possui precisam ser enfrentadas e elaboradas,
para que a criança não seja vista como passiva na educação, mas que ela tenha a
possibilidade de diálogo. É preciso criar mecanismos de motivação e transformar
as escolas em grandes armas contra o crime no brasil."
4. Inserção no mercado de trabalho
"O quarto ponto é possibilitar a inserção desse jovem
no mercado de trabalho. Você tem problemas de formação que dificultam a entrada
desses jovens no mercado. E esse jovem é suscetível aos piores empregos. É
óbvio que ele não vai permanecer em nenhum trabalho porque ele não é
satisfeito. Depois, ele se infiltra em um ciclo de exploração. É preciso de uma
mediação para auxiliar esse jovem no mercado de trabalho em opções que sejam
mais vantajosas do que a promessa superficial do tráfico de drogas, por
exemplo."
url da matéria:
https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil/4-passos-que-diminuiriam-mais-a-criminalidade-que-reduzir-a-idade-penal-segundo-especialista-do-ipea/ar-BBEN02L?li=AA520y&ocid=spartandhp