quarta-feira, 4 de março de 2015

SEGUNDA SECCIONAL: ANO 1


Fonte da imagem: http://www.diariosp.com.br

Carlos Alberto Marchi de Queiroz

Inaugurada em 28 de fevereiro do ano passado, a Segunda Delegacia Seccional de Polícia de Campinas não exerce, em sua plenitude, suas relevantes funções. Funciona, adesivamente, como um simples plantão policial, em regime de plantão permanente durante 24 horas.
Na prática, a Segunda Seccional, além de seus distritos e delegacias municipais, deveria ter uma Delegacia de Investigações Gerais (DIG), uma Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise), uma Delegacia de Defesa da Mulher (DDM)  uma Delegacia da Infância e da Juventude, um SHPP e um Sarc.
Essas unidades policiais encontram-se previstas pelo decreto nº 57.640, de 20 de dezembro de 2011, assinado pelo governador Alckmin. Todavia, faltam 30% de efetivos. Em agosto de 2014 o déficit de sua co-irmã, a 1ª Delegacia Seccional, era de 138 policiais.
O governo, desde 2014, promete mais policiais civis para Campinas, sem, contudo, estipular prazos. Autoridades interpeladas pelos órgãos de imprensa declaram, sempre, que novos policiais estão sendo formados pela Academia. A escola, na segunda quinzena de fevereiro deste ano, diplomou 51 escrivães. Agora treina 15 agentes... Candidatos a delegado esperam pela prova oral há 4 meses. Não há professores suficientes para preparar 12.800 policiais faltantes.
A última previsão de policiais para Campinas, Correio de 16/11, A11, afirma que a Segunda Seccional terá uma situação confortável em um ano e meio.
Essa importantíssima unidade policial civil, uma UGE, na realidade ocupa hoje alguns cômodos de um espaçoso prédio alugado por R$ 61 mil mensais, no Jardim Londres, cuja utilização vem sendo questionada pelo Ministério Público.
É preciso ressaltar que desde o momento da sua definitiva criação, três sucessivos prefeitos municipais e os dois últimos diretores do Deinter 2 vêm se esforçando  no sentido de encontrar amplo terreno na região sudoeste da cidade para viabilizar a construção de um moderníssimo prédio próprio que englobaria  delegacias especializadas e quatro distritais.
A implantação da Segunda Seccional ainda provoca forte oposição por parte de quem se recusa a olhar o futuro da cidade, como estadistas. A Polícia Civil de Campinas, desde 2011, não tem como escapar desse imperativo categórico. A cidade é a primeira do interior a contar com duas seccionais.
Naquele ano, a Cidade das Andorinhas chegava a 1,2 milhão de habitantes. Precisava, urgentemente, de mais uma DDM. A 1ª DDM, na ocasião, acusava o maior número de boletins de ocorrência do Estado, com 750 registros mensais, em média, ultrapassando as marcas das DDMs da Capital.
O diretor do Deinter, à época, Licurgo Nunes Costa, diante das estatísticas, representou ao secretário de Segurança Pública propondo a criação de mais uma Seccional que, ipso facto, traria em seu bojo a 2ª DDM. A unidade, por motivos de planejamento, não poderia funcionar no âmbito da 1ª Delegacia.
Em 2013, a 1ª DDM fechara o ano com 9,8 mil ocorrências, possibilitando, com cifras, a criação  da Segunda Seccional,com sua DDM, a ser instalada na região entre as rodovias Anhanguera e Bandeirantes. Em 12 de julho de 2013, novo secretário da Segurança, pressionado pelos órgãos de imprensa diante da onda de crimes, baixou, às pressas, a Resolução SSP-105, publicada no Diário Oficial de 16, fixando, arbitrariamente, a distribuição de cargos policiais civis no Estado.
O DOE daquela data atribuiu, artificialmente, 464 cargos à 1ª Seccional e 259 à Segunda, cuja proposta inicial não despertara a atenção do governo. A ideia só decolou durante a campanha eleitoral para o governo do Estado e para as prefeituras.
Os leitores hão de se lembrar que, na última campanha eleitoral, os marqueteiros do governador e do atual prefeito de Campinas martelaram a instalação da Segunda Seccional, uma ótima ideia, na cabeça dos votantes.
A 2ª Delegacia Seccional de Policia de Campinas é um projeto fantástico, apesar da falta de seriedade revelada pelos políticos demonstrada, em números, pelo impassível Diário Oficial. Nos dias que correm, a repartição não passa de mera delegacia cenográfica, salva apenas por seus valorosos integrantes e pelo extraordinário plantão policial, um feliz equívoco que merece ser imitado por todas as delegacias seccionais no Estado. O erro, curiosamente, deu certo em Campinas.
Um ano após sua inauguração, a Segunda Delegacia Seccional de Polícia de Campinas continua à espera de imaginários delegados e agentes. A Polícia Civil parece estar na mesma situação de Napoleão, naquele domingo, 18 de junho de 1815, durante a batalha de Waterloo. O corso genial esperou durante o dia todo reforços que nunca chegaram.

Carlos Alberto Marchi de Queiroz é professor da Academia de Polícia

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