Documentário mostra o trabalho de Polícia Civil de São Paulo
DIRETO AO PONTO
De Lucas SalgadoDirigido por Wolney Atalla, o documentário Sequestro vem sendo exibido em mostras e festivais desde 2009 e só agora encontra espaço no circuito para entrar em cartaz. A demora no lançamento retrata a dificuldade que pequenas produções nacionais, em especial as não-ficcionais, encontram para chegar às salas de cinema e de forma alguma é o retrato de uma eventual falta de qualidade do longa.
O filme retrata o dia a dia da Divisão Anti Sequestros (DAS) da Polícia Civil de São Paulo e tem como principal mérito o fato de ir direto ao ponto. Assume uma posição desde os créditos iniciais e trata de mantê-la ao decorrer dos acontecimentos.
Já nos créditos, o longa traça uma linha geral sobre a natureza e o histórico da prática do sequestro no Brasil. Ao tratar da origem do crime, citando como momento-chave a queda do comunismo, Sequestro corre o risco de tentar vender uma "verdade universal", mas aos poucos vai apresentando provas que ao menos tornam seu argumento plausível.
A produção foca suas atenções em casos específicos de sequestro e em depoimentos de vítimas, e por isso usa os primeiros minutos justamente para dar um embasamento estatístico e para apresentar teorias. O documentário aponta que em sua origem, o crime tinha natureza política e que o grande erro da justiça no Brasil foi prender os criminosos políticos junto com os normais, criando assim uma espécie de universidade dentro dos presídios.
Uma das grandes virtudes do filme foi ter conseguido um acesso impressionante às atividades da DAS, acompanhando, inclusive, negociações para libertação de reféns. Cita casos históricos como os sequestros de Abílio Diniz e Washington Olivetto, mas foca nas pessoas comuns, como Cléber, José Ibiapina e uma menina de seis anos de idade.
Traz depoimentos de criminosos, policiais, vítimas e familiares, tentando (e conseguindo) abordar ao máximo as questões relativas ao delito. Dentre os depoimentos, destacam-se o do policial que não aguentou a dura rotina e acabou sofrendo um AVC, o da mãe de um sequestrador e o de uma vítima que foi estuprada em cativeiro. Como podem imaginar, nada disso é fácil de ser visto ou ouvido, mas não dá para ignorar a importância do registro.
Em alguns momentos acaba parecendo uma propaganda da DAS, principalmente por mostrar apenas um caso em que a situação não termina bem. O filme não deixa claro se omitiu alguns casos (o mais provável) ou se a divisão possui um altíssimo índice de solução.
Sequestro passa rapidamente por elementos como a Síndrome de Estocolmo, quando a vítima acaba se identificando com o sequestrador, mas não se aprofunda, até para não ser relapso. Muito bem fotografado e com uma trilha sonora que dita o ritmo de algumas situações, o documentário merece ser conferido. Não tenta explicar o crime de sequestro, mas abrange de forma ampla vários elementos deste. Mostra o cativeiro, a negociação, a prisão e, principalmente, a investigação. É fácil imaginar o filme como fonte de várias obras de ficção.
fonte:http://www.adorocinema.com/filmes/filme-202449/criticas-adorocinema/