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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Exclusivo: Marcos do Val, o senador do grampo contra Moraes, e a farsa de um brasileiro na SWAT, por Luiz Carlos Azenha

Senador ganhou fama no Brasil como "instrutor da SWAT", se elegeu na onda bolsonarista em 2018, no entanto dossiê de soldados dos Estados Unidos denuncia uso indevido da instituição por Do Val, que nunca foi policial


Por Luiz Carlos Azenha

Ele já foi fardado duas vezes ao programa de Jô Soares, no SBT e na Globo. Convidado de Danilo Gentili, compareceu ao estúdio com o colete que tem um imenso SWAT escrito no peito, além da palavra “instructor” em inglês. Além disso, pendurou bem visível o símbolo de sua empresa, o CATI, e fez merchan da Action X, que se apresenta como a principal fornecedora de equipamentos para a prática de airsoft, jogo em que são disparados projéteis fake, de plástico.

Mas, não foi só. Ao lado de Sabrina Sato, que portava um fuzil fake, Marcos do Val, com uma vistosa camisa amarela – com “instructor”, sempre em inglês, escrito nas costas – comandou diante das câmeras o que definiu como “progressão em área de risco”.

No Facebook, tem hoje mais de 3,8 milhões de seguidores, boa parte dos quais angariou antes de ser eleito senador pelo Espírito Santo, em 2018, com 863.359 votos, na onda do bolsonarismo.

Marcos do Val e Sabrina Sato, em 2016. (Foto: Reprodução/Facebook @marcosdoval

Tendo sua trajetória catapultada pelo fato aparentemente extraordinário de ser instrutor da SWAT nos Estados Unidos, Marcos do Val queria abrir a CPI do Terrorismo na Câmara, Senado ou na Câmara Distrital de Brasília para provar que o governo Lula sabia com antecedência que as sedes do Congresso, do STF e o Palácio do Planalto seriam atacadas no dia 8 de janeiro.

“O Presidente Lula, após ter ciência dos atos de vandalismo que seriam praticados [...] solicitou, de última hora (no sábado), aeronave presidencial com destino ao interior de São Paulo”, ele postou em sua página no dia 24 de janeiro.

Dias depois, deu entrevistas gravadas à revista Veja dizendo que o ex-presidente Jair Bolsonaro pediu a ele que gravasse o ministro do STF Alexandre de Moraes.

“Ele é sem noção das consequências”, afirmou em relação a Bolsonaro, que teria dito a ele que o Gabinete de Segurança Institucional “ia me dar o equipamento para poder montar para gravar”.

Nos dias seguintes, Marcos do Val foi se desdizendo, até publicar um vídeo (obviamente, com o botton da SWAT na lapela do paletó) em que afirmou: “Tem repórter dizendo que o senador tá se contradizendo, que o senador tá tendo desequilíbrio emocional. Tudo isso é proposital. Falei para vocês sobre o good cop, bad cop, tem várias técnicas que são utilizadas. E eu tô fazendo uso de todas elas”.

No vídeo, ele disse que Jair Bolsonaro estava sendo comunicado de sua estratégia e chamou os filhos Flávio e Carlos de “parceiraços”.

Marcos do Val nunca foi policial

O que chama atenção, no entanto, é que ainda hoje o senador se escora num pretenso conhecimento de técnicas policiais nas quais ele seria especialista, o que é contestado por um grupo de militares dos Estados Unidos.

Embora muitos dos seus votos tenham sido obtidos com a defesa da segurança pública, a experiência militar do senador foi apenas a de ter servido como soldado no 38° Batalhão de Infantaria, em Vila Velha, na juventude.

Em sua biografia oficial, Marcos do Val diz que desenvolveu técnicas de imobilização a partir do aprendizado de aikido, no Japão, o que teria sido o embrião de sua empresa, o CATI (Centro Avançado em Técnicas de Imobilização), com base no Espírito Santo.

Em 2008, ele ganhou notoriedade ao aparecer no Fantástico, da TV Globo, como se fosse especialista em sequestros, criticando o comportamento da polícia paulista no caso Eloá, em que o Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) da polícia paulista tentou uma invasão desastrada do cativeiro que acabou na morte da refém.

No dia seguinte, Reinaldo Azevedo, próximo do governador de então, o tucano José Serra, polemizou com Marcos do Val:


“Parece ser também especialista na arte do engodo e da autopromoção”, acrescentou.

Foi além: “A SWAT não existe. A SWAT, assim, com artigo definido, não existe. Aos fatos: SWAT – sigla para Special Weapons and Tactics – é o nome convencional para grupos de operações especiais e de alto risco nas polícias americanas. Muitos nem têm esse nome”.

Isso é fato. Mas, atribuindo as críticas à amizade entre o jornalista e José Serra, Marcos do Val perseverou no ramo, até se eleger em 2018 com fama de durão contra o crime.

Com fuzil na mão, Marcos do Val consolidou imagem de treinador da polícia

Em 2015, no livro “Um brasileiro na SWAT”, de Ana Lígia Lira, o hoje senador apareceu em destaque na capa, vestido de preto e portando um fuzil. Sua imagem de guerreiro extraordinário, capaz até de treinar a polícia dos Estados Unidos, estava consolidada.

Capa do livro "Um brasileiro na SWAT", de Ana Lígia Maria

Ainda hoje, em seu perfil do twitter, o senador aparece numa montagem entre o símbolo da SWAT de Dallas, no Texas, e um blindado onde está escrito Dallas Police – ele veste uma camiseta escura onde também aparece o escudo da SWAT local.

A TTPOA é uma espécie de clube de policiais, uma entidade que não faz parte do aparato de Estado no Texas. 

Marcos do Val já foi denunciado como "uma farsa"

Em 2017, a Gazeta Brazilian News, que se anuncia como o principal jornal brasileiro da Flórida, deu voz a dois brasileiros que denunciaram Marcos do Val como “uma farsa”.

Lincoln Batista, cidadão americano que serviu ao Exército dos Estados Unidos no Afeganistão, foi um dos autores da denúncia.

Lincoln foi baseado nos fortes Hood e Lewis entre 2006 e 2017 e passou 9 meses em Cabul. Hoje, é reservista e vive em Huntsville, no Alabama.

Ele diz que não tem nenhuma pendenga pessoal ou comercial com Marcos do Val, apenas se revoltou por acreditar que o agora senador brasileiro cometeu crime que no Brasil seria equivalente a se fazer passar por policial.

“A SWAT é uma instituição que conta com os melhores policiais que são os que dão crédito à instituição. Mas, uma pessoa que foi contratada para dar aula de imobilização sair falando que é membro da SWAT, tirar fotos mostrando ‘police’ no uniforme e sem passar uma imagem clara do que realmente ele faz para a população é uma vergonha”, afirmou.

“Ele é instrutor de imobilização, mas não um membro da SWAT. Por isso, ele não utiliza arma de fogo, sendo que o trabalho dele não é policial. Mas a propaganda se passando por um policial está explícita. Não é culpa dele que o pessoal entende errado, mas ele passa essa imagem segurando armas como se fosse ferramenta de trabalho dele, mas não é”, acrescentou.

Lincoln se deu ao trabalho de montar uma página no Facebook, com outros colegas da área militar e de segurança, batizada de Stolen Valor Brasil, dedicada a “desmascarar falsos militares, policiais, veteranos e instrutores que falsificam suas credenciais”.

"Stolen Valor" é literalmente "valor roubado".

É uma referência à lei de 2005, assinada pelo presidente George W. Bush, que tornou contravenção punível por até seis meses de cadeia “o uso, manufatura ou venda não autorizada de qualquer condecoração ou medalha militar”.

A página, que chegou a 17.144 curtidas, foi tirada do ar no Brasil, segundo Lincoln por ação de Marcos do Val. Ele teria tentado processar o militar na Justiça do Espírito Santo, sem sucesso.

Mas, Lincoln insistiu: lançou outra página, a Stolen Valor Brasill, com dois eles, “dedicada à caça de embusteiros, falsários e estelionatários que se passam por policiais”.

Em troca de mensagens e por telefone, Lincoln reafirmou à Fórum as denúncias que vem fazendo contra Marcos do Val nas redes sociais desde 2016.

“Ele sempre bloqueia as pessoas que questionam. Uma das [perguntas] mais simples é: qual sua patente na SWAT? Não existe cargo de instrutor, instrutores aqui são os mais experientes e qualificados pelo departamento [de polícia]”, escreveu Lincoln.

O senador se desfez do CATI antes de assumir o seu primeiro cargo público. Mas, ainda é perseguido pela denúncia de que teria inflado o seu currículo.

No caso do Texas, ele diz que é membro honorário da SWAT da pequena Beaumont, uma cidade de apenas 120 mil habitantes que não é exatamente uma capital do crime.

Em Dallas, Marcos do Val de fato desenvolveu relações com integrantes da associação TTPOA, a organização sem fins lucrativos formada por policiais e veteranos que edita uma revista e promove cursos de aperfeiçoamento.


Embora a página do CATI na internet agora tenha acesso restrito, ainda está funcionando um perfil da empresa no Facebook.

A CATI International Police Training tem 22 mil seguidores e postou pela última vez em julho de 2018, ano em que Marcos do Val saiu candidato pela primeira vez na vida e se elegeu de forma surpreendente com apoio do bolsonarismo.

A página anunciou, ao preço promocional de U$ 2 mil, que faria um curso de “Super Swat” no Texas, entre 16 de abril e 5 de maio de 2017. O valor não incluía passagem aérea, alimentação, hospedagem e custos com o visto americano. Nela, aparecem ofertas de cursos em todo o Brasil.

As conferências nos Estados Unidos, no entanto, seriam dadas pela associação de policiais que não tem relação formal com a SWAT de Dallas.

Lincoln Batista sustenta que o acesso de Marcos do Val a policiais do Texas se deu por influência de um amigo, ex-militar e ex-policial da SWAT. A sede americana do CATI, segundo Lincoln, foi registrada num endereço ligado ao amigo de Do Val, em Lumberton, Texas, que fica a 20 quilômetros de Beaumont, onde o hoje senador conseguiu o título de membro honorário da SWAT por conta da influência do parceiro.

Em suas redes sociais, Marcos do Val se diz vítima de perseguição e argumenta que fez muitos inimigos ao defender a empresa brasileira Taurus, uma grande exportadora de armas para os Estados Unidos.

Uso da SWAT para ganhar dinheiro, diz dossiê

O soldado Lincoln e seus amigos prepararam um dossiê de 67 páginas com denúncias sobre o que consideram o uso inadequado da SWAT por um não policial, no caso do Val, para ganhar dinheiro.

Nas redes sociais, militares, ex-militares, policiais, ex-policiais, veteranos de guerra, atiradores e soldados da fortuna formam uma comunidade expressiva, que se organiza em torno de cursos e feiras de armamento.

Foi nesta comunidade que as denúncias contra Marcos do Val ferveram, a ponto dele publicar um vídeo em fevereiro de 2017 admitindo que nunca foi policial.


Um vídeo disseminado pela página do Stolen Valor, no entanto, mostra que em ao menos três ocasiões Marcos do Val disse ser policial.

 “Fui convidado para fazer parte do time, então trabalhei com a unidade cinco anos como policial”, diz ele numa entrevista gravada.

Em outro vídeo, uma pessoa pergunta se Marcos do Val é policial.

“Fui lá nos Estados Unidos durante cinco anos, hoje eu dou aula lá desde o ano de 2000, aula para a SWAT nos Estados Unidos”, responde.

No print de uma conversa por escrito que teve com um de seus questionadores, o hoje senador escreveu: “Camarada, acho que falta mais pesquisa sua. Veja na descrição do meu perfil, lá eu falo quem eu sou e o que faço. Apesar de ter sido policial por 5 anos aqui nos Estados Unidos, eu nunca falei que ainda sou”.

No dossiê organizado por Lincoln, consta uma visita que Marcos do Val fez a uma unidade policial de Paris, a convite do francês Alexandre Vigier. Do Val estava acompanhado por um PM do Paraná. Houve visita às instalações, exibição de técnicas de imobilização e torneios de tiro. O hoje senador deu de presente ao anfitrião uma caveira-símbolo do BOPE, o Batalhão de Operações Especiais da PM do Rio de Janeiro.

Vigier, instrutor de tiro tático, gravou um vídeo depois de receber questionamentos sobre Marcos do Val em sua página.

“Conheci o Marcos do Val pelo Facebook. Eu achava que ele era policial, instrutor da SWAT”, ele disse.

“Na Europa, quando você diz que é instrutor da SWAT, você faz parte da instituição”, acrescentou.


Defesa dos EUA nega treinamentos da CATI a agentes

Ainda hoje, em sua biografia, Marcos do Val diz que sua empresa treinou agentes da NASA, FBI, Navy Seals e do Vaticano.

Lincoln Batista diz que seu grupo questionou o Departamento de Defesa dos Estados Unidos e em fevereiro de 2017 recebeu a resposta do setor de Operações Especiais do Comando Sul de que não há registro de que Marcos do Val tenha participado ou dado instruções às Forças Especiais do Exército ou ao pessoal da US Navy Special Warfare, que inclui os Navy Seals.

A Fórum questionou as entidades citadas por Marcos do Val em sua biografia, mas ainda não obteve resposta.

De acordo com o senador, ele recebeu dois títulos de doutor honoris causa. Um da Facei, a Faculdade Einstein, de Salvador. Outro da Erich Fromm World University, da Florida.

O que não está escrito na biografia é que o diretor-geral da Facei é o mesmo reitor da Erich Fromm.

A universidade registrada na Flórida informa que oferece títulos de doutor honoris causa “para todos aqueles que tenham uma larga experiência curricular, de forma tácita e/ou explícita”.

E explica: “O prestígio da universidade que atribui o Doutoramento Honoris Causa para uma personalidade, geralmente de âmbito internacional, fica bastante enriquecido, porque a partir daquele momento esta pessoa fará parte do corpo de doutores daquela universidade”.

Os números de telefone das duas escolas que constam na internet não atendem, nem mesmo a contatos por WhatsApp.

No Instagram, onde tem 766 mil seguidores, o senador Marcos do Val se apresenta como “membro de honra e ex-instrutor da SWAT nos Estados Unidos e da unidade antiterrorismo da NASA”.

Lincoln Batista sustenta que Do Val tem um histórico de exageros em suas viagens internacionais. Num curso do CATI em Portugal, ele foi apresentado em uma TV local como “das forças especiais do Brasil”.

De uma publicação sobre "Grandes Mestres das Artes Marciais", compartilhada pelo próprio do Val, Lincoln sustenta que há claros exageros: que o brasileiro teria treinado a segurança do papa no Vaticano, participado oficialmente de operações da SWAT nos Estados Unidos e sido o único brasileiro a obter um visto especial do governo estadunidense por causa de sua qualificação.

Além disso, Lincoln aponta para a inconsistência dos diferentes currículos que o hoje senador apresentou ao longo do tempo. Da página marcosdoval.com.br, que já saiu do ar, Lincoln recolheu o seguinte print:

“Instrutor do DEA, US Army e de centenas de equipes das SWAT’s em todos os EUA. Ministra regularmente treinamentos para o grupo Antiterrorismo da equipe de operações especiais da NASA (Marshall Space Flight Center) nos EUA. Foi chamado com urgência para treinar soldados americanos das forças especiais que estavam para lutar na guerra do Afeganistão e Iraque”.

De todos os exageros que teriam sido cometidos pelo hoje senador brasileiro, segundo Lincoln, o que mais o chocou foi numa entrevista dada ao Fantástico, no qual Marcos do Val repetiu que teria treinado forças especiais dos Estados Unidos. "Eu tenho security clearance", diz o militar, referindo-se à checagem que antecede o acesso de qualquer pessoa a ambientes onde circulam informações confidenciais.

Marcos do Val nunca teve tal privilégio nos Estados Unidos e, portanto, não poderia ter treinado pessoalmente as unidades de elite do Pentágono. "Como ele não é cidadão americano, nem policial poderia ser aqui", afirma.

Lincoln disse que está à disposição do senador para um debate ou mesmo uma ação na Justiça dos Estados Unidos para comprovar os dados que reuniu no dossiê. "O máximo que ele vai conseguir é ter de se explicar", desafia.

Fonte: https://revistaforum.com.br/politica/2023/2/6/exclusivo-marcos-do-val-senador-do-grampo-contra-moraes-farsa-de-um-brasileiro-na-swat-por-luiz-carlos-azenha-131081.html











quinta-feira, 9 de março de 2017

“Brasileiro da SWAT” é acusado de farsa

Foto: reprodução

Publicado em 9 de março de 2017


Se você não conhece Marcos do Val, “O Brasileiro na SWAT”, provavelmente algum amigo seu “curte” a página dele no Facebook. Com quase 4 milhões de seguidores, Do Val tornou-se autoridade nos últimos anos em relação a segurança pública e táticas de defesa e mostra constantemente a rotina de treinos da SWAT.
Só que ao contrário da impressão passada pelas imagens dele usando uniformes da SWAT, armado e ao lado de policiais americanos, o próprio Do Val afirma não ser nem policial nem membro da SWAT, mas um instrutor de técnicas de imobilizações táticas da SWAT através da companhia que fundou, CATI- International Police Training, desde 2000, e membro honorário da SWAT de Beaumont, no Texas – o que quer dizer ele recebeu o título sem precisar preencher os requisitos para o cargo. Ele também é mestre 2º Grau em Aikido, diplomado e credenciado pela International Aikido Federation, situada no Japão, e foi militar do exército brasileiro no 38o Batalhão de Infantaria, de acordo com descrição em seu site.
Seu site lista também que foi instrutor de instituições como US Army, Navy Seals, Vaticano, operações especiais da NASA (Marshall Space Flight Center), e que fora chamado com urgência após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 para treinar os soldados americanos que foram lutar na guerra do Afeganistão e Iraque.
Nos últimos meses, um grupo formado por brasileiros nos EUA e no Brasil ligado ao mundo tático, ao US Army, à polícia e mesmo residentes na Europa, resolveu desvendar a imagem passada por Do Val. Para o grupo, Do Val se aproveita de sua posição como instrutor na SWAT para se promover no Brasil com a venda de cursos e palestras.
O confronto tem se dado na maior parte das vezes online, via redes sociais, e em grupos do aplicativo WhatsApp, com trocas de acusações, compartilhamento de vídeos, denúncias de difamação e supostas ameaças.
Para eles, a imagem passada por Do Val é de que ele faz parte da polícia americana, algo que ele teria afirmado em situações no passado, uma delas registrada em vídeo.
O brasileiro e cidadão americano Lincoln Batista, de 29 anos, membro do US Army e que atualmente está servindo na infantaria do exército no Afeganistão, foi um dos que começou a “briga”. Para ele, o brasileiro está usando o nome da SWAT para se promover no Brasil. “A SWAT é uma instituição que conta com os melhores policiais que são os que dão o crédito à instituição. Mas, uma pessoa que foi contratada para dar aula de imobilização sair falando que é membro da SWAT, tirar fotos mostrando ‘police’ no uniforme e sem passar uma imagem clara do que realmente ele faz para a população é uma vergonha”, disse Batista. “Ele é instrutor de imobilização, mas não um membro da SWAT. Por isso, ele não utiliza arma de fogo, sendo que o trabalho dele não é policial. Mas a propaganda se passando por um policial está explícita. Não é culpa dele que o pessoal entende errado, mas ele passa essa imagem segurando armas como se fosse ferramenta de trabalho dele, mas não é”.
Outro que entrou na briga é Maurício Lima, que vive em Colorado Springs, no Colorado, e é aposentado do US Army, onde serviu por 7 anos e oito meses, incluindo o Iraque e Afeganistão.

Segundo Maurício, Do Val ‘vende’ algo muito superior do que o que ele realmente faz. “De dar exibições aqui na SWAT ele já admitiu que é policial, que é membro da SWAT, postou que foi chamado às pressas depois de 11 de setembro para treinar as Forças Especiais americanas que estavam indo em combate para o Iraque e Afeganistão. Temos os prints de tudo isso que ele postou, pois ele já apagou muita coisa depois que a gente denunciou”, relata. “Eu entrei nessa luta com várias pessoas que são respeitadíssimas do mundo tático aqui e no Brasil e que sabem muito”.

Marcos do Val se defende
Ao ver a onda de críticas tomando força, Do Val publicou um vídeo no dia 24 de fevereiro em sua página do Facebook.
Para ele, essa perseguição começou depois que ele anunciou parceria com a empresa Taurus em um projeto de valorização dos policiais brasileiros, chamado Heróis Reais. “Como a Taurus teve muitos problemas no passado de qualidade de suas armas, gerou muita repulsa por alguns profissionais da área, e por isso partiram para cima de mim com toda essa raiva e campanha de difamação. Tenho tomado providências junto à Delegacia de Crimes Virtuais para que os mesmos respondam pelos crimes de injúria, difamação e calúnia”, explica.
No vídeo, Do Val afirma que não é policial, mas sim instrutor de policiais. “Que me lembre, ao longo desses 17 anos falei duas vezes a frase ‘como sou policial’. Uma vez foi em um vídeo, outra em uma resposta a um seguidor no meu Facebook. Essa frase jamais foi dita com o intuito de tirar qualquer vantagem pessoal”.
Do Val afirmou ainda não ter nenhum vínculo empregatício com a cidade de Dallas, com a Polícia de Dallas, com a SWAT de Dallas, nem com nenhum outro departamento de polícia.
“Eu dei e dou treinamentos de imobilizações táticas para essa unidade e tantas outras unidades da SWAT através da TTPOA e do CATI Treinamento Policial”, disse. “Essa técnica de imobilizações táticas eu desenvolvi na década de 90, no estado do Espírito Santo, e foi ela que abriu tantas portas no mundo inteiro para mim”.
Ao Gazeta, Do Val explicou que embora seja instrutor de imobilização, por causa da relação de confiança com a SWAT de Beaumont, tem a permissão de participar de operações sempre que possível.
“Para a SWAT nos EUA eu sou instrutor somente na disciplina ‘Imobilizações Táticas’, mas me especializei em todas as táticas e técnicas da SWAT. Assim, posso ministrar minhas aulas o mais próximo ainda da realidade da SWAT e usamos na aula armas e equipamentos operacionais”.
“Um brasileiro na SWAT”?
O GAZETA questionou Do Val se o título do livro sobre ele “Um Brasileiro na SWAT” não confunde seus leitores em relação a ele ser ou não policial.
“Criar confusão sobre a natureza do meu trabalho nunca foi meu objetivo. O livro sobre mim conta a minha experiência, os desafios e as vitórias. E esta trajetória narra como vim a ser instrutor na TTPOA (Texas Tactical Police Officers Association), ministrar meu curso de imobilizações táticas para várias equipes táticas policiais (SWAT), mas em momento algum há ali qualquer registro como se eu fosse membro da SWAT de outra forma que não a condição que já expus, como membro honorário da equipe da SWAT de Beaumont”, explica. “Foi justamente na condição de instrutor que sempre me posicionei e sempre mencionei a todos que nunca figurei na qualidade de servidor policial”.
O Gazeta também questionou Do Val em relação a uma matéria publicada no G1 (em 20/10/2007), intitulada “’Tropa de elite’ americana desembarca no Brasil”, que tinha uma referência a Do Val como “membro e instrutor da Swat”, que falou “de seu escritório em Dallas”.
Do Val explicou que, na época, tinha um escritório em Dallas, este independente do Dallas Police Department.
“Quanto aos episódios isolados em que ‘fui policial’ foi algo mencionado, (acho que em duas situações) durante os 17 anos da minha carreira, era minha intenção me referir à posição honorária, não como um servidor público policial. Jamais fiz tais ou quaisquer afirmações com propósito de exercer autoridade, auferir ou angariar vantagem, seja ela de qualquer natureza (moral, patrimonial, etc.). Ou seja, talvez a única impropriedade minha tenha sido em raríssimos lapsos em situações ao vivo suprimir apenas em tais momentos a condição de instrutor/membro honorário quanto à minha posição em relação a polícia”, declarou.
“Oportuno ainda ressaltar aqui a diferenciação evidente entre ‘instrutor policial’ e ‘policial instrutor’. No primeiro caso, trata-se de alguém que realiza instruções a um determinado órgão policial, que é o meu caso, pois eu instruo policiais, ora então, sou um instrutor policial, um instrutor de policiais. No segundo, a situação já seria daquele servidor policial que realiza instruções, expressão esta que jamais utilizei”, explica.

Evidências

O Beaumont Police Department confirmou ao GAZETA a sua relação com Do Val como instrutor. “Marcos do Val não é membro do Beaumont SWAT Team. Marcos conduziu treinamentos na área de táticas de defesa especificamente através do CATI e participou de alguns de nossos treinamentos também. Marcos continua a nos ajudar nessa área e somos agradecidos por seu contínuo esforço em nos ajudar”, escreveu, via e-mail, Sargento J.C. Guedry, Police Community Relations Supervisor/SWAT.
Já o Dallas Police Department (DPD), onde Do Val instruiu recentemente (de acordo com várias evidências mostradas por ele), respondeu ao GAZETA que Do Val não é e nem nunca foi membro nem do DPD, nem do DPD SWAT. “Ele instruiu um curso há alguns anos para o DPD. O DPD não usa seus serviços atualmente e não tem nenhuma ligação com ele”, disse Melinda Gutierrez, do Media Department.
Indagado, Do Val explica que sua relação com o Dallas SWAT é via cursos do TTPOA, dos quais participa desde 2001, e não diretamente com o departamento de polícia.
Este ano Do Val estará novamente como instrutor da conferência da TTPOA, uma convenção com palestras onde são mostradas técnicas policiais como de imobilização, atendimento pré-hospitalar e tático. O CATI vende pacotes para levar policiais brasileiros à conferência. O pacote do “Super SWAT”, que vai de 16 de abril a 5 de maio em Dallas, custa $2 mil dólares.
No entanto, Paulo Semajoto, dono de uma empresa de Ccnsultoria de segurança em São Paulo, insiste que Do Val sempre deixou claro que dava instrução ao Dallas Police Department e à SWAT e só agora nas últimas semanas está esclarecendo que é via TTPOA. “Ele vende pacotes para brasileiros dizendo ‘venha comigo para a SWAT’, mas na verdade ele não leva esses brasileiros para a instituição SWAT”, explica Semajoto. “Agora que ele está sendo desmascarado está deixando claro que é via TTPOA, e não na polícia de Dallas”.

Currículo e outras acusações

Existem outras partes do currículo de Do Val que o grupo também contesta. Seu site (marcosdoval.com.br) lista que foi instrutor de instituições como US Army, Navy Seals, que ministrou treinamentos para o grupo anti-terrorismo da equipe de operações especiais da NASA (Marshall Space Flight Center) nos EUA e que fora chamado com urgência após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 para treinar os soldados americanos que foram lutar na guerra do Afeganistão e Iraque.
A lista inclui até mesmo o Vaticano e mais de 120 corporações policiais e de segurança espalhadas por diversos países.
O grupo questiona e está buscando provas de que Do Val não deu treinamento às Forças Especiais. Para eles, seria impossível Do Val ter treinado forças especiais ativas sem passar por Secret Clearance (investigação minuciosa).
Do Val mostrou um cartão de agradecimento que recebeu do Naval Weapons Station Earle, referente a treinamentos dados em dezembro de 2012 e abril 2013. Ele esclareceu ao GAZETA que não treinou tropas, mas os instrutores das tropas e não passou por Secret Clearance “porque esse processo é somente para quem terá acesso a determinadas informações sigilosas do governo. E esse não foi o meu caso”, disse Do Val.
Porém, Maurício Lima, aposentado da US Army, diz que é impossível Do Val ter treinado os soldados americanos ativos (conforme está escrito em seu website) por diversos motivos.
“Eu sou somente cidadão americano, pois quando obtive a cidadania, precisei perder a brasileira, por causa de Secret Clearance – uma investigação que precisa ser feita na sua vida para constatarem que você é digno de lidar com material secreto. Uma das coisas necessárias para treinar forças especiais ativas que o Do Val fala que treinou e, claro, não treinou nunca, é que se ele não tiver esse Secret Clearance, ele não vai poder treinar forças especiais”, disse Maurício. “Outra coisa é que se ele estivesse treinando tropas ativas, ele jamais poderia postar foto do treino, conforme publicado em sua página do Facebook. Ele pode ter feito uma demonstração, uma exibição informal, nesse caso, num depósito de munição da Marinha (Naval Weapons Station), mas não um treino tático ou militar. Se ele fosse fazer um treinamento oficial, ele teria que ser militar ou policial. Mesmo que fosse um treino para o chefe da tropa, ele precisaria da Clearance”.
Para Maurício, que já perdeu muitos colegas nas guerras do Afeganistão e Iraque, entrar nessa batalha é questão de honra. “Eu entrei nessa quando descobri que ele disse que treinou Forças Especiais Americanas. Aí ele mexeu com a nossa ‘brotherhood’. É o que chamamos de Stolen Valor – o ato de se passar por militar ou policial. Nos Estados Unidos, se você usa isso para lucro próprio é crime. Você pode comprar e usar uniformes oficiais, mas é crime obter lucro. O Marcos Do Val está fazendo isso no Brasil. Aqui ele não fala publicamente que é policial americano. Ele está aplicando o golpe no Brasil. As autoridades dos EUA então não podem fazer nada contra ele. O que pode acontecer – e o que estamos tentando – é que o Departamento de Dallas afirme publicamente que ele não é parte nem nunca foi e possivelmente seja barrado de qualquer exibição. É isso que estamos tentando”.
url da matéria: http://gazetanews.com/brasileiro-da-swat-e-acusado-de-farsa/