PCC decidiu assassinar servidora por ser considerada um alvo
de “fácil alcance” e para isso seguiu a risca um plano muito bem traçado....
Foto: reprodução
Houve
um momento de dúvida entre os assassinos quando finalizavam os preparativos
para a morte de Melissa de Almeida Araújo, 37. Era realmente necessário matar a
mãe de um filho de dez meses? Na discussão prevaleceu a ordem do PCC (Primeiro
Comando da Capital): sim, a psicóloga do presídio de segurança máxima de
Catanduvas (PR) seria a terceira vítima da facção no sistema penitenciário
federal.
O
planejamento e execução do homicídio que aconteceu em maio seguiu uma rígida
divisão de tarefas, apurou o UOL com fontes ligadas à investigação do caso.
Três
meses antes do assassinato, uma "equipe de levantamento de
informações" chegou à região de Cascavel (PR). Com uma população estimada
em mais de 316 mil habitantes pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), a cidade se caracteriza por ser um polo do agronegócio baseado na
cultura da soja.
Melissa
morava com o marido, o policial civil Rogério Ferrarezzi, em um condomínio de
classe média de Cascavel --distante 55 km de Catanduvas.
"Em
um dos celulares dos criminosos apreendidos pela polícia, foram encontradas
fotos de várias casas e carros de agentes que trabalhavam na prisão de
Catanduvas", diz, sob a condição de sigilo, um dos agentes que trabalham
na unidade prisional. Ele próprio foi um dos monitorados pelo grupo criminoso.
"Eles
chegaram a ter audácia de bater nas portas de algumas residências para
verificar os endereços dos agentes", acrescenta.
PCC
quer intimidar e desestabilizar
O
UOL revelou no último dia 30 de junho que a maior facção criminosa do país, de
acordo com a PF, cometeu os homicídios com o objetivo de "intimidar e
desestabilizar" os servidores que trabalham nas quatro unidades federais
do país: Catanduvas (PR), Campo Grande (MS), Mossoró (RN) e Porto Velho (RO).
De
acordo com parecer do MPF (Ministério Público Federal), o regime aplicado
nestas penitenciárias é considerado "opressor" pelo PCC, pois os
agentes costumam barrar o acesso dos presos dessas unidades a "regalias
ilícitas", como a posse de telefones celulares dentro das celas.
Por
que matar Melissa?
Nas
investigações sobre os três casos, ficou comprovado que não havia um caráter
pessoal na escolha daqueles que seriam assassinados. "Eles não visam as
pessoas, e sim o Estado. Os agentes são representantes do poder público. Eles
querem abalar o sistema penitenciário federal como um todo", afirma um
membro do MPF que atua em um dos casos.
Melissa
foi escolhida como a terceira vítima, depois de ter sua rotina monitorada por
pelo menos 40 dias, por uma razão específica: ela não andava armada. Mesmo com
a contrariedade de alguns dos assassinos "por matar uma mulher", o
destino da psicóloga foi decidido por ela ser considerada um alvo de
"fácil alcance", afirma um dos investigadores da PF que trabalha no
caso.
"Quando
a morte dela foi anunciada na penitenciária, os próprios presos ficaram
surpresos. Ela era vista com simpatia por eles, por trabalhar sempre de acordo
com os padrões estabelecidos, ajudando-os inclusive dentro da legalidade",
diz outro agente ouvido pela reportagem.
Melissa
trabalhava no sistema penitenciário federal desde o ano de 2009. Ela era
responsável por fazer o acompanhamento psicológico dos presos de Catanduvas e
voltara da licença-maternidade havia poucos meses.
Morte
dentro de casa
No
meio da tarde de 25 de maio, Melissa saiu do presídio de Catanduvas. Pegou o
marido de carro na delegacia em que ele trabalhava e os dois seguiram à creche
para buscar o filho de dez meses.
Por
volta das 18h, o carro dela chegou ao condomínio onde morava. Ela não tinha
notado, mas havia sido seguida desde o começo da manhã por homens distribuídos
em três carros roubados.
Melissa
passou pelo portão do condomínio e ao menos um dos carros conseguiu entrar logo
depois. Acionou o botão da garagem de sua casa e, enquanto ela manobrava o
carro, dois homens armados com pistolas 9 milímetros saíram do carro onde
estavam e começaram a disparar contra ela.
Rogério
Ferrarezzi sacou sua arma e revidou os tiros. O policial foi atingido pelo
menos oito vezes. Melissa saiu do carro com o bebê no colo e correu para dentro
de casa, mas os atiradores conseguiram alcançá-la. Ela recebeu dois tiros no
rosto. O filho saiu ileso.
"É
o padrão do PCC para execução agora. Eles usam pistola Glock de calibre 9
milímetros, com modificação para rajada e carregador de 30 munições", diz
um investigador da PF. A arma de uso exclusivo da PF e das Forças Armadas
também foi utilizada na morte do agente Alex Belarmino, em setembro de 2016.
Logo
após o atentado, uma operação envolvendo várias forças policiais fechou as
saídas da cidade e conseguiu prender quatro envolvidos no crime. Outros dois
suspeitos foram mortos a tiros. Pelo menos metade deles tem ligação com o PCC,
apurou a reportagem.
Procurado
pelo UOL, o delegado federal Marco Smith afirmou que o inquérito ainda está em
andamento e que a investigação é sigilosa. "O que podemos dizer neste
momento é que as provas colhidas até aqui apontam para a participação de
membros de uma facção criminosa fundada em São Paulo", disse.
Fonte: Uol