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Carlos Alberto Marchi de Queiroz
Três novelas, de grande audiência nacional, prestes a terminar, transmitidas pela principal rede de televisão do País, intituladas Cordel Encantado, Morde e Assopra, e Insensato Coração, escritas por diferentes autores, apresentam, de forma distorcida, autoridades policiais fictícias, o delegado Batoré, o delegado Pimentel, o delegado Wilson, seu sucessor, e o delegado Rossi,que não espelham a realidade comportamental e profissional das autoridades policiais civis brasileiras.
Sob o manto da licença poética, alegada pela emissora quando recebe protestos das entidades de classe de vários estados brasileiros, as três novelas ainda cometem sérios equívocos de continuidade ao apresentarem personagens fazendo papéis de policiais militares, de escrivães, de peritos e de investigadores de polícia.
O delegado Batoré, na verdade, representa o antigo delegado de polícia, conhecido como delegado de calça curta, que existiu entre a queda do Império e o fim da 1ª República,em 1930, e que era nomeado pelos políticos ou por coronéis locais.
Semelhante figura não mais existe no Brasil, a partir da promulgação da Constituição Federal, que exige que as policias civis de carreira sejam dirigidas por delegados de polícia,bacharéis em Direito.
O delegado Batoré faz o papel de sabujo, obediente às diretrizes políticas locais, totalmente ignorante no que tange a conhecimentos jurídicos, penais e processuais penais, funcionando como um fantoche nas mãos dos poderosos.
Felizmente, a partir de 1905, quando a carreira de delegado se profissionalizou no Estado de São Paulo,essa figura foi deixando de existir, paulatinamente, e nesse contexto, considerando-se a novela Cordel Encantado como paródia regional, permite-se que o telespectador consuma esse tipo de personagem em termos de história da policia, à época da Consolidação das Leis Penais.
O delegado Pimentel, assassinado em um dos capítulos de Morde e Assopra, enquanto viveu o seu papel, não cometeu erros jurídicos relevantes em relação à investigação policial e eventuais ocorrências por ele presididas, mostrando,todavia, uma certa sub serviência ao prefeito de Preciosa, além de desvio de conduta que o levou à morte,antes de ser punido em termos funcionais.
O sargento que serve na delegacia, uniformizado de azul marinho, deforma a figura dos guardas municipais, que no Brasil, dia a dia, vem melhorando o seu desempenho profissional, como se verifica observando-se as ações das GMs dos municípios vizinhos de Campinas.
O escrivão de polícia de Preciosa, que,aliás, apresenta-se corretamente vestido, e que se diz nomeado, não existe na vida real, já que todos os integrantes da carreira, no País, são concursados e nomeados efetivamente, após estágio probatório.
Entretanto, comete erros de continuidade, chefiando investigações, dando ordens ao sargento, e ouvindo pessoas a revelia de seus dois delegados, que, conforme se pode verificar, não ditam depoimentos. O delegado Wilson, por seu turno, assume as funções do delegado Pimentel,após a sua morte, sem prestar concurso público e muito menos sem passar por treinamento em academia de polícia, nomeado por um político,após um pedido de seu pai, o médico da cidade. Os erros de continuidade da novela são imensos, com algemamento de noiva dentro da igreja, antes de seu casamento, num evidente cometimento de crime de abuso de autoridade por parte do novo delegado, que a recolhe ao xadrez, com tiara e tudo em companhia da mãe,sem qualquer ordem judicial.
O único delegado verossímil é o doutor Rossi, ao executar um mandado de prisão contra o banqueiro Cortez.As cenas do crime que vitimaram Norma foram bem feitas pelos atores que representam o delegado de plantão e os peritos criminais
Uma rede de televisão, que tem como consultor, um ex-integrante do Bope, não deveria permitir tantos erros de continuidade policial levando a população a ter uma imagem distorcida da polícia.
Carlos Alberto Marchi de Queiroz é professor de Direito e servidor público
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